A Psicologia no Brasil tem sofrido retrocessos em relação a suas políticas públicas. De cortes nas políticas de redução de danos até a reemergência de lógicas antirreformistas, da exclusão de grupos tradicionais e minoritários até propostas de “cura gay” que sempre voltam à tona, buscamos nosso lugar – que vem sendo apropriado indevidamente por outras áreas – em meio a construção de uma Psicologia acolhedora da diversidade nacional, de forma a resistir às constantes ameaças à democracia e aos direitos humanos. Em momentos como esse é necessária uma reflexão da maneira como essa ciência vem sendo construída em âmbito nacional e em como dar visibilidade a práticas que contemplem tais diversidades.

No ano de 2019 ocorreu a 16ª Conferência Nacional de Saúde (8a+8) que propiciou debates acerca da saúde pública e da democracia, no contexto em que o SUS encontra-se ameaçado. Em alinhamento com essa perspectiva, a terceira edição do CONVEP, com o tema “Psicologia e Democracia: construção na resistência”, busca dar luz a questões da Psicologia no Brasil e refletir sobre maneiras de abordar os temas na formação e na prática, pensando sobre o que já ocorre e o que pode estar por vir.

O CONVEP surgiu após os movimentos de ocupação e greve estudantil no final de 2016. Símbolo de luta contra retrocessos políticos, foi fundamental para o sentimento de coletividade e organização de classe pela defesa de princípios básicos, além da descoberta de uma potencialidade positiva transformadora a partir do engajamento político. Tomando posições e sendo agentes de nossa própria realidade, podemos articular como queremos produzir nossa história. Dessa maneira, vemos o congresso como forma de resistência ao discutir sobre o que é constantemente ameaçado, pensando nas decisões que vêm sendo tomadas no campo psicológico, que influenciam tanto na formação quanto na atuação como profissionais da saúde.

Graduar-se transcende a sala de aula, requer espaços, necessita da convivência com o novo e desconhecido. A disposição física da instituição e o que constantemente entra em pauta dentro dela influenciam diretamente a formação acadêmica e humana do futuro profissional que está em construção. Sendo um local acolhedor, a cooperação é promovida, de forma a possibilitar a produção de conhecimentos oriundos de ideias e diálogos, como, por exemplo, um congresso promovido por estudantes.

Com o congresso, possibilitamos um período de convergência de ideias, que extrapola as grades curriculares, entrando em contato com o diferente. Buscamos forjar um ambiente aberto ao diálogo e fomentador da discussão, sempre em espaços democráticos que respeitem a diversidade. Assim, o espaço físico tem muita influência sobre a maneira como nos integramos e relacionamos, como construímos e compartilhamos conhecimentos, e, por isso, é importante perceber os momentos e maneira como isso se dá.